- Estrela Da Tarde
Estrela Da Tarde
Poema: J.C Ary dos Santos Música: F. Tordo Canta: C. do Carmo
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo mordia.
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria
- Fado da Saudade
Nasce o dia na cidade, que me encanta
Na minha velha Lisboa, de outra vida
E com um nó de saudade, na garganta
Escuto um fado que se entoa, à despedida
E com um nó de saudade, na garganta
Escuto um fado que se entoa, à despedida
Foi nas tabernas de Alfama, em hora triste
- Fado Do Campo Grande
A minha velha casa,
por mais que eu sofra e ande,
é sempre um golpe de asa,
varrendo um Campo Grande.
Aqui no meu pais,
por mais que a minha ausência doa,
é que eu sei que a raiz de mim
está em Lisboa.
- Lisboa - menina e moca
No Castelo ponho um cotovelo
Em Alfama descanso o olhar
E assim desfaço o novelo
De azul e mar
À Ribeira encosto a cabeça
Almofada da cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
- Madrugada
Fernando Pinto do Amaral / Alfredo Duarte
Foi numa noite gelada
Já rompia a madrugada
No momento em que te vi;
Não soube dizer-te nada
Nessa hora alucinada
E fiquei a olhar pra ti
- Namorados Da Cidade
Namorados de Lisboa
À beira Tejo assentados
A dormir na Madragoa
Namorados de Lisboa
Num mirante deslumbrados
À beira verde acordados
Namorados de Lisboa
Ao Domingo uma cerveja
- Nasceu Assim, Cresceu Assim
Talvez a mãe fosse rameira de bordel
Talvez o pai um decadente aristocrata
Talvez lhe dessem à nascença amor e fel
Talvez crescesse aos tropeções na vida ingrata
Talvez o tenham educado sem maneiras
Entre desordens, navalhadas e paixões
Talvez ouvisse vendavais e bebedeiras
- No Teu Poema
No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
- Novo Fado Alegre
Amigo,
lavra também a tua voz e vem comigo
Não cantaremos nunca mais o fado antigo
Agora
em cada verso há um homem que não chora
e o futuro é o sítio onde se mora
Cantar é ser um pássaro de esp’rança
Poisado no olhar duma criança
- Rosa da Noite
Vou pelas ruas da noite
com basalto de tristeza,
sem passeio que me acoite.
Rosa negra à portuguesa.
É por dentro do meu peito, triste,
que o silêncio se insinua, agreste.
Noite, noite que despiste
- Uma flor de verde pinho
Eu podia chamar-te pátria minha
Dar-te o mais belo lindo nome português
Poderia dar-te um nome de rainha
Que este amor é de Pedro por Inês
Mas não há forma, não há verso
Não há leito para este fogo, amor, para este rio
Como dizer um coração fora do peito?